sexta-feira, 13 de maio de 2016

Caminho Fiel [Pt.9] Os peregrinos saem da gruta

     Terminada a longa conversa, sentiram pesar sobre eles todo o cansaço da viagem que haviam feito até então. Foram, então, convidados a descansar um pouco nas almofadas ao redor da mesa, pois todo aquele cenário havia sido preparado especialmente por Conselheiro e Experiência para alívio e descanso dos peregrinos, visto que eles mesmos haviam, anos antes, trilhado o mesmo trecho sozinhos, tendo quase desfalecido. Dormiram pesadamente, até se recuperarem completamente de seu sono. Assim que acordaram, encontraram a mesa novamente farta de comida, com Conselheiro ao lado deles. Assim que se alimentaram novamente, Conselheiro lhes disse que deveriam partir de imediato, para não perder o precioso tempo para prosseguir na caminhada. Ele os acompanharia, disse, enquanto Experiência havia se ausentado para ajudar outros irmãos em outras partes do caminho.
     Prosseguiram, ainda iluminados pelas tochas, felizes por terem sido renovados de forma tão inesperada. Agradeciam a Conselheiro enquanto faziam o resto do percurso, tendo em mente o quanto estavam melhores, mais seguros e mais sábios, tão somente por terem encontrado em seu caminho esses irmãos mais experientes, e se beneficiado de seus conselhos. "Nós ficamos aqui por semanas", disse Conselheiro. "Não teríamos conseguido sair daqui se o Senhor não nos tivesse levantado. Por isso, buscamos ajudar os viajantes, para que não tenham de passar pelo sofrimento que passamos, e também para que possam prosseguir mais rapidamente, com nossa ajuda."
     Finalmente, chegaram à outra ponta. Apesar de ainda não enxergarem nada, podiam ouvir novamente, ao longe, o som de ondas. Havia também um leve canto de pássaros que começava a se misturar com o barulho das águas, ao início da manhã. Saindo da gruta, viram-se numa praia calma e aberta, tendo ao lado deles o mar, junto ao grande rochedo, e à sua frente, ao longe, morros arenosos. O sol estava a meio caminho de nascer completamente, vindo de detrás do mar e iluminando as dunas. Toda a paisagem era muito agradável. Conselheiro lhes disse: vamos, nosso destino por hoje está um pouco mais acima. Levantando os olhos para o alto, os peregrinos viram que havia uma espécie de palácio construído sobre a grande rocha da qual tinham saído, a qual era bastante extensa, formando o que parecia uma chapada ladeada pelo mar.
     “Subamos até lá”, disse Conselheiro.
     Demoraram pouco tempo, pois havia sido esculpida, na rocha, uma escada íngreme que levava ao topo. Chegando lá, avistaram o palácio: era imponente em sua aparência, magnífico no seu exterior, tendo vários pórticos, escadarias e enfeites.
     “Que lugar é esse?”, perguntou Cristã.
     “Este é o santuário de Deus”, respondeu Conselheiro.
     Entraram. O silêncio de imediato os envolveu. O barulho das ondas tornara-se repentinamente inaudível. O canto dos pássaros, porém, parecia mais alto e claro. Todo o lugar por dentro era muito suntuoso. Não parecia haver uma grama sequer de qualquer sujeira ou poeira. O primeiro cômodo onde entraram era amplo, e parecia servir para o acolhimento dos recém-chegados. Havia enormes janelas de vidro de todos os lados, que mostravam a paisagem em redor. Eles podiam agora ver o mar azulado e a grande rocha que o cortava. O sol já aparecia no horizonte, na extremidade do mar de onde eles tinham vindo. O brilho alaranjado se esparramava pelas poucas nuvens ao redor do sol nascente. O vermelhão da rocha começava a luzir sob a meia-luz. As águas estavam tranquilas, e as dunas pareciam majestosas em sua cor bege, que fazia um meio-tom com a rocha e a aura do sol. A visão toda era de tirar o fôlego.

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