sábado, 5 de novembro de 2016

A pregação expositiva

 [Resenha para o módulo "Estudo Bíblico Indutivo", da ECH]

Meditar na Lei do Senhor sempre foi uma preocupação para o povo de Deus em todos os séculos. A Palavra de Deus é o nosso alimento e aquilo que nos dá sabedoria, refrigério e crescimento espiritual. Por isso, é muito importante que saibamos nos nutrir dela.

Ao mesmo tempo em que cada cristão pode e deve buscar esse alimento diário, seja ele instruído ou não, existem também lados e profundidades da Escritura que são desvendados com maior estudo do texto bíblico. O Senhor, ao mesmo tempo em que ordena a todos buscar o conhecimento da Palavra individualmente, também designou alguns para pastores e mestres, o que significa que existem verdades e mandamentos na Escritura cujo aprendizado aprouve a Deus que fosse através do serviço de alguns irmãos em  específico, dedicados ao ministério da Palavra, e que usassem esse dom específico na edificação de todos. Nisso reside a importância do estudo bíblico além da mera prática devocional, como um meio de alimentar o rebanho e glorificar a Deus através do cuidado de suas ovelhas. Vemos isso, por exemplo, na pergunta do eunuco etíope, que, sem entender Isaías 53 pela mera leitura, indagou a Felipe: "Como poderei entender, se alguém não me ensinar?" (Atos 8:31). Assim, Deus nos fez um corpo, e temos necessidade dos dons uns dos outros, um dos quais é o estudo das pérolas profundas das Escrituras e o repasse delas de forma mais compreensível para todos.

Uma das formas mais seguras e proveitosas de se fazer isso é através da pregação expositiva. O esforço por expor o texto leva o pregador a se preocupar, primordialmente, em ser fiel ao texto. Ele se preocupa em expor o significado da Palavra na época em que foi escrita e também seu significado hoje. Assim, o pregador e as ovelhas são resguardados de darem ouvidos a doutrinas estranhas, hereges ou simplesmente rasas, para olhar com profundidade o que as Escrituras dizem.

Na realidade brasileira atual, isso se mostra muito necessário. O padrão normal para uma igreja local brasileira é ser deficiente no estudo e ensino da Palavra, com frequentes brechas a doutrinas estranhas ao evangelho e até mesmo pregações que falam de tudo, menos do texto-base. Infelizmente, é a realidade mais comum. Estórias, piadas e devaneios que vieram da própria mente do pregador, forçadas ao texto através de interpretações alegóricas; tudo isso é corriqueiro hoje. Assim, a pregação expositiva vem como um meio de sanar essa deficiência e alimentar os ouvintes com alimento sólido e verdadeiro. No Brasil, talvez estejamos acostumados a que o pastor prepare o sermão pensando: "Que palavra quero levar à igreja?" (escolhendo um tema, por exemplo). A pregação expositiva é um esforço em se aproximar mais da pergunta: "Que palavra Deus tem para trazer para a igreja?". Quando a pregação é sempre temática, alguns textos impopulares serão eternamente evitados; talvez aqueles que sejam pouco interessantes aos olhos humanos; talvez aqueles que falem sobre o pecado de alguém importante na igreja. Quando a pregação é expositiva, não há como fugir de qualquer trecho: todo texto deve ser eventualmente pregado. Assim, dá-se primazia ao que Deus quer falar através da Sua Palavra, e não a qualquer preferência humana.

Não devemos, porém, cair no grave erro de achar que a pregação expositiva é o único modo válido de pregar a Palavra de Deus. Não devemos jamais afirmar que só há pregação fiel quando há pregação expositiva. O povo de Deus viveu séculos em vários contextos diferentes e vários estilos diferentes de estudo e aprendizado, e a semente de Deus permaneceu neles, frutificando para Deus. Por mais que a pregação expositiva seja um bom método, é um método humano, e de forma nenhuma encerra todas as possibilidades do poder da Palavra. Às vezes Deus quererá falar um tema específico. Às vezes Deus terá uma exortação específica para os ouvintes. Não devemos engessar a pregação da Palavra de Deus nos moldes de um estudo intelectual e eternamente sequencial. Um dos maiores perigos para o pregadores desse método é deixar a pregação fria, mecânica, acadêmica, cheia de referências a comentários bíblicos e às línguas originais, mas com pouca aplicabilidade. A aplicação é a chave para salvar a pregação expositiva. Não devemos nunca esquecer que nossa sede não é por mais conhecimento técnico, é pela Palavra de Deus. Nossa alma não quer simplesmente estudar, quer se alimentar. Existe uma diferença sutil entre ter conhecimento técnico sobre trechos da Palavra de Deus (linhas interpretativas, termos ambíguos, contexto, etc.) e conhecimento da Palavra. O verdadeiro conhecimento liberta e transforma, alimentando a alma junto com a mente.

Em última instância, buscando ser fiéis a Deus na exposição da Palavra, não devemos deixar os ouvintes pensando simplesmente: "Como aquele pastor fez uma boa exegese!", e sim, "Por acaso não ardiam os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos expunha as Escrituras?" (Lucas 24:32).