sábado, 13 de maio de 2017

Caminho Fiel [Pt. 15] - Zeloso continua a contar sobre a Vila da Moralidade

Assim diziam nossas tradições. Vocês já ouviram falar das personalidades mais famosas de nossa vila: Legalidade e seu filho Civilidade, os quais defendem a boa educação e o comportamento polido. De fato, todos em nossa vila se apoiam nas boas obras, apesar de, como talvez tenham notado, haver diversos segmentos e grupos. 

Por isso, diz o nosso hino:

Vivemos assim, dos homens os mais maduros
Corações retos, andares puros

Ordenanças sempre lembramos
Dia e Noite meditamos

O crescer é pleno, para quem o alcançar
Para isso basta o próximo ajudar

Esforçai-vos, pois, e sede justos
Paguem sempre os grandes custos

Dez em mil se tornarão
Num universo de corrupção

Buscando a essência do nosso existir
Um mundo melhor a construir

Corretos somos, em leis a guardar
"O que fizer estas coisas, por elas viverá".

Como disse, há muitos segmentos em Moralidade, cada um esforçando-se por buscar a justiça de forma diferente.

 Existem os Civilizados, como Legalidade e seu filho, que buscam espalhar a cordialidade e a boa educação, unindo todos povos em torno do que consideram a maior de todas as virtudes, o Respeito; eles também são conhecidos por "Politicamente Corretos";

 Há os que se chamam de Evoluídos, os quais se concentram no amor ao próximo e em todas as ações práticas e de benefício aos outros; 

E nós, os Escolhidos, o menor grupo, todos filhos de um mesmo ancestral, unidos por sangue, nos concentramos na importância de guardar de todos os mandamentos.

Todos, porém, em meio às nossas diferenças, concordamos em um ponto: somos responsáveis por nossas ações e, portanto, devemos fazer por merecer para alcançar a recompensa dos justos.

Cheguei a odiar os outros países e até mesmo invadi-los e feri-los, como alguns aqui podem atestar. 
Porém, quando comecei a examinar as Escrituras, vi que todos os nossos pressupostos estavam errados.
Descobri, então, que a Vila da Moralidade fora criada não para ser uma morada em si mesma, mas foi colocada em nossa terra por causa das transgressões, para nos guiar para o Caminho Estreito, até que viesse Aquele que haveria de cumprir toda a Lei em nosso favor.

Depois de ter visto tudo isso, algo muito estranho começou a acontecer dentro de mim. Meu zelo, tão firme, havia sido mal direcionado o tempo todo. Descobri que perscrutar o amor de Deus era muito mais profundo que considerar-me superior, como fazíamos. Percebi que ele, que me parecera sempre tão simples, era a maior profundeza da sabedoria de Deus; tão profunda que me é impossível sondar. Descobri que deveria não apenas contemplar Seu amor e me maravilhar com ele, mas também me deixar transformar na Sua imagem. De fato, descobri que esse é o sentido do toda a vida: amar. Se não tiver amor, nada me valerá. Minha verdadeira missão não era exercer juízo – todo esse tempo, eu vinha me deixando, sem saber, vencer pelo mal. Mas morri para tudo isso; tenho agora uma nova vida, na qual fui chamado para vencer o mal com o bem. É por isso que recebi esta inscrição, para sempre gravada no meu peito – dizendo isso, afastou a própria vestimenta, descobrindo seu ombro. No seu peito, estava escrito: A misericórdia triunfa sobre o juízo.
E é por isso que hoje recebi um novo nome. Amável é o nome que Ele me deu.
Conselheiro – E o que aconteceu com você, depois?
Amável – Saí da minha vila de origem e tomei o caminho da trilha, da qual falei. Ela me levou a bosques cada vez mais baixos, numa região montanhosa, até que cheguei a um vale baixo e fértil, por onde andei até chegar aqui. Não sei exatamente onde estava.

Conselheiro – Olhe o Mapa, e você descobrirá que acaba de vir do Vale da Humilhação, lugar onde muitos peregrinos já passaram. É necessário que todos os nascidos em Moralidade passem por ele para chegarem a este santuário.

Amável – Eu estava no Vale da Humilhação? – perguntou, surpreso. – O famoso local da batalha de Apoliom?

Conselheiro – Sim, pois o vale é diferente para cada peregrino. O que você achou de lá?

Amável – Eu até gostei de caminhar por aquele vale; foi como se, pela primeira vez na vida, fosse verdadeiramente livre dos meus pecados e ambições. Eu preferia estar lá sozinho do que com todos os personagens ilustres que antes eram meus concidadãos.