quarta-feira, 27 de abril de 2016

Caminho Fiel [Pt. 3]

         À medida em que prosseguiam, o som aumentava, até que acreditaram encontrar-se numa praia. Quando finalmente alcançaram a fonte do barulho, perceberam perplexos que a ponte acabava, pairando acima das águas, apoiada sobre um último par de estacas de madeira que desciam até debaixo da superfície. Não havia sequer sinal do caminho que antes estiveram trilhando, o qual, na verdade, continuava abaixo deles numa gruta fechada e segura. "Que faremos?" perguntou a apreensiva Cristã a seu companheiro. "Tentarei dar um jeito nisso", respondeu. Mas, por mais que pensasse em utilizar da madeira da ponte para construir trechos posteriores, viu que precisaria descer até aos alicerces do abismo para fundamentar uma passagem segura para eles. Tristonho, admitiu para ela que construir o restante da ponte era algo além das suas forças, e que apenas o favor do Senhor poderia fazê-lo. Não avistavam nada além das águas turbulentas à sua frente. Decepcionados e confusos, perceberam que não tinham a menor chance de prosseguir nadando, tanto por causa das águas profundas, como porque perderiam completamente a direção do caminho.

         “Há algo de errado...”, disse Cristão, intrigado, e um tanto revoltado. “Como pode o Rei ter colocado uma ponte tão bela diante do nosso caminho, e tão reta, se a deixou inacabada, de forma que ela não nos conduziu a lugar algum?”

          E, cabisbaixos, puseram-se a fazer o percurso de volta. Mas, não bastasse a decepção recente, viram que as velas, que antes os deixavam agradavelmente iluminados, agora se apagavam, deixando-os na total escuridão e frio, como no lugar onde primeiro tinham visto a ponte. Enquanto caminhavam, Cristão, abatido pela ansiedade no coração, pôs-se a lamentar em alta voz, dizendo: “Planejo meu caminho, mas não o entendo; entende-lo seria como entender o caminho de uma águia no ar ou de um navio no mar.” Ao que Cristã, consolando-o, respondeu: “Não andes ansioso por coisa alguma, meu caro companheiro. Ainda que planejes no coração o teu próprio caminho, como poderias tu entende-lo, visto que o Senhor nos dirige os passos? Entrega, pois, os teus planos ao Senhor, e reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.”

           Animado por essa boa palavra, prosseguiu Cristão à frente, com a espada da Palavra desembainhada, para servir como luz para o caminho, e para protegê-lo e à sua companheira dos inimigos que poderiam espreitar na escuridão em redor.

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