terça-feira, 26 de abril de 2016

Caminho Fiel [Pt. 2]



             Eis que, levantando os olhos, os dois viam uma pequena escada de corda que subia para uma ponte iluminada a velas, com rosas que enfeitavam ambas as paredes, feitas de finos troncos entrelaçados. "Bom", pensou Cristão, "não se ouviu falar de alguém que construísse uma ponte acima de um caminho. É certamente curioso que alguém tenha tido essa ideia”. Parando um pouco e refletindo, olhou para a escuridão à frente. Não podia enxergar mais de cem metros abaixo. Ponderou, então: “Essa ponte segue exatamente o caminho estreito. Tenho, assim, que é uma escolha lícita para nós. Quanto à sua conveniência, penso que será muito mais agradável caminhar por ela, um pouco iluminada, do que pelo chão duro através do escuro à frente, onde a solidão parece tão envolvente quanto o ar gélido da noite. Logo, é para nosso bem que nela subiremos. Afinal, 'Não é bom que o homem esteja só', e 'Melhor é serem dois do que um, pois se um cair, o outro levantará seu companheiro'. Certamente, assim, essa ponte é obra dos servos do nosso Rei, que a colocaram aqui para amenizar o caminho de Seus peregrinos." E, contente com essa benevolência no tempo certo, subiu a ponte, junto com sua companheira.

            A caminhada na ponte era notoriamente mais agradável que o caminhar no chão; não apenas porque era mais iluminada, quente e forrada com as pétalas que caíam das rosas, mas principalmente pelo fato de que, tendo uma companhia tão agradável, tornava-se muito fácil para ele não prestar atenção nas dificuldades do caminho. Pode-se até mesmo afirmar que, por estar absorto na conversa com sua nova companheira, dedicava metade de sua atenção a ela, e metade ao caminho abaixo deles, tendo a mente dividida. Caminharam prazerosamente por cima do campo silencioso e escuro, desfrutando assim de um trecho que, de outro modo, seria penoso. Não notaram, porém, quando o caminho estreito abaixo deles entrava no meio de uma rocha, continuando na forma de uma caverna. A noite era tão densa, e a rocha era de tal forma ofuscada pela luz das velas, que eles não a perceberam. Continuaram caminhando, até ouvirem ao longe o som de águas, como que de ondas.

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