sexta-feira, 29 de abril de 2016

Caminho Fiel [Pt. 4] Cristão e Cristã encontram Romântica e Responsável

         Chegaram de volta, pois, à escada de corda que marcava o início da ponte, logo acima do caminho estreito. Descendo, encontraram dois outros peregrinos que se aproximavam deles. Eram também um homem e uma mulher, que andavam de mãos dadas e olhavam para a ponte, acima.
          “Boa noite! Para onde estão voltando, amigos?”
        “Boa noite”, respondeu Cristã. “Somos peregrinos, rumo à Cidade Celestial. Subimos pela ponte, e percebemos que ela não nos conduzia a lugar algum; por isso voltamos até este ponto, de onde esperamos prosseguir pelo nosso caminho. Quem são vocês?”
          “Ah, nos chamamos Romântica e Responsável, e pretendemos subir essa mesma ponte. Vejam bem, ouvimos dizer que mais à frente o caminho entra numa gruta horripilante, cheia de toda sorte de inimigos e privações, e por isso mesmo pretendemos utilizar esta ponte.”
          “Mas vocês viram a gruta?”
          “Bom, claro que não!”, respondeu Responsável. “Seria muito irresponsável da nossa parte nos aventurarmos em um local assim. Na verdade, fomos alertados por um homem gentil, chamado sr. Maturidade, que nos indicou que existia uma ponte construída pelos servos do nosso Rei, e ele mesmo nos garantiu que acabava de atravessá-la de volta para ajudar mais peregrinos. Ele mesmo nos ensinou como reparar quaisquer defeitos nessa ponte (visto que ela já é antiga), e nos deu o material para isso. Vocês estarão seguros se nos seguirem”.
           “Entendo”, prosseguiu Cristã. “Mas, pedimos a vocês que nos permitam falar um pouco mais. Pessoalmente não conheço o sr. Maturidade, mas posso dizer a vocês, tendo Deus como testemunha, de que acabamos de vir daquela ponte, e ela, ainda que seja agradável de se atravessar, não conduz a lugar algum! Tenho para mim que o tal sr. Maturidade está equivocado, ou então é um impostor.”

             A expressão do sr. Responsável mudou diante dessa afirmação.

         “Como se atreve a falar desse jeito do sr. Maturidade? Conheço-o desde a juventude, pois fomos criados no mesmo vilarejo! Ele é um homem íntegro e sábio, e ouso dizer que, sem ele, nenhum peregrino deveria aventurar-se a caminhar nessas estradas perigosas!”
         “Meu caro, tenho certeza de que ela não intentou nenhum mal ao falar”, disse Cristão pela primeira vez, movendo-se ligeiramente em direção ao sr. Responsável.
         “Rogo que nos ouçam!”, continuou Cristã. “O sr. Maturidade é apenas um, e nós somos dois. Sabemos que é mais fácil alcançarmos a vitória quando damos ouvidos a muitos conselheiros, ao invés de poucos. Além disso, por boca de duas ou três testemunhas deve ser confirmada toda palavra.
         “Bom”, retomou o sr. Responsável, “gostamos muito de conhece-los, mas preferimos ouvir a voz do sr. Maturidade. Ele mesmo nos contou que há muitos peregrinos inexperientes que ainda não o conhecem, nem estão preparados para ouvir a sua voz. Nós lhes desejamos toda a sorte e bênçãos, mas precisamos ser diligentes e seguir caminho! Eu mesmo tenho muitas tarefas a fazer, e preciso cuidar delas!”, disse, enquanto subia a escada, sendo seguido por sua companheira. Por trás das suas costas, Cristão e Cristã viram pendurados vários utensílios de marcenaria, pregos, serras e martelos.
          Sendo assim deixados sozinhos, ambos prosseguiram viagem pelo caminho escuro. Desta vez, porém, revigorados pelas palavras de ânimo faladas quando ainda estavam na ponte. Entregando seu caminho ao Senhor, não mais tinham a mente dividida, mas ambos consideravam atentamente o que estava à sua frente, na estrada.

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